terça-feira, 5 de novembro de 2013

DUNE, A Saga do Deserto


intro

À grande maioria das pessoas, o fenómeno Dune resume-se ao filme Dune (1984) de David Lynch e aos subsequentes jogos Dune e Dune II: The Building of a Dynasty (da Cryo e da Westwood respectivamente, para a Virgin Interactive) e conhecerá talvez o livro de Frank Herbert. No entanto, a um aficcionado em potência e agora que foi anunciado o projecto da Paramount de um novo Dune para 2012 a ser realizado por Pierre Morel (Banlieue 13, Taken), interessará saber mais.

texto


No início havia um livro escrito por um aspirante a ecologista chamado Frank Herbert que lançou o universo Dune em seis livros e então descansou; desde o Dune de 1965 até Chapterhouse: Dune de 1985, passando pelos Dune Messiah (1969), Children of Dune (1976), God Emperor of Dune (1981) e Heretics of Dune (1984). Há ainda espaço para assinalar que a dupla Brian Herbert e Kevin J. Anderson editaram ainda uma quantas prequelas e sequelas baseados em trabalhos não terminados de Frank Herbert, expandindo a saga quase até a exaustão. O livro Dune é dos mais rentáveis de sempre dentro do género sci-fi e a saga Dune das fundamentais dentro desta literatura.

E depois dos livros há os filmes e as mini-séries (além dos inúmeros jogos) que deles brotaram: primeiro Duna (Dune – 1984) de David Lynch, depois a mini-série em 3 episódios Frank Herbert's Dune ou Dune (2000) de John Harrison e a fechar outra mini-série em 3 episódios, a Frank Herbert's Children of Dune ou Children of Dune (2003) de Greg Yaitanes.

O filme de Lynch assinala a estreia da história de Herbert no grande ecrã e marcou-a visualmente para a posteridade, ainda que contrariando os mais acérrimos defensores da obra de Herbert que a acusam de falta de fidelidade em relação ao livro. O que antes tinha sido imaginado e construído a partir do livro foi materializado neste filme como uma ópera rock sombria e negra – o que encontro posteriormente que me recordou o Dune de Lynch foram o Dark City de Alex Proyas (1998) e o La Cité des Enfants Perdus de Jeunet/ Caro (1995). Encontro algum paralelo no Blade Runner de Ridley Scott (1982) o que surge como curiosidade, dado o facto de o realizador inglês ter sido contactado para realizar a primeira adaptação de Dune.

A quem tenha lido o livro original e a que cause estranheza e até repelência o toque de Lynch e os desvios à obra, não pode deixar de concordar que foi essa mesma marca de Lynch que revolucionou e democratizou Dune (e apadrinhado por Herbert). A série Dune de 2000 é um fiel obediente ao clássico, assim como Children of Dune de 2003 (esta adaptando para tv os livros Dune Messiah e Children of Dune), mas se por um lado se mantêm fiéis em absoluto ao escrito, por outro falham retundamente em qualidade nas interpretações e na evocação capaz de um universo literário que pedia mais em muitos detalhes, seja guarda-roupa, imagética e outros – facto explicado talvez pelo orçamento controlado ou talvez ainda, arrisco, pela sombra e peso da obra de Lynch. Tudo somado proporciona que se espere com ansiedade a nova adaptação de Dune ao cinema, que tem saída prevista para 2012.

Se alguma decepção atinge o fã que conheceu este universo através do filme de Lynch e depois se apercebe conhecendo os livros de que a liberdade criativa nesse foi exageradamente além duma simples adaptação, existem diversas edições extended e um fanedit online mais obedientes à literatura. E são extended e não director's cut porque Lynch se demarcou do projecto – e até recusou uma sequela que estava prevista – precisamente pela erosão causada pelos fãs, o que levou a que surja creditado nessas revisões posteriores como Alan Smithee na realização e como Judas Booth no argumento (é notória a antipatia de David Lynch por estas tentativas de aproximação aos fãs por parte da produtora, sendo conhecido que – dizem as más línguas – que abandona as conferências de imprensa mal se refere este projecto).

Numa visão pessoal, considero o filme de Lynch brilhante e as adaptações para televisão menores – mesmo contando as alterações de fundo ao filme de 1984, como sejam o final diferente, a introdução dos weirding modules, a reinterpretação da weirding way e ainda a alteração substancial à densidade psicológica da personagem de Jessica. Por detrás deste filme há no entanto um dos filmes não concretizados mais interessantes de sempre e que terá sido abandonado pelos custos de produção envolvidos. Este não-filme era para ser realizado por Alejandro Jodorowsky (El Topo, Holy Mountain) e reuniu ainda os talentos durante a pré-produção de HR Giger (que desenhou as cadeiras Harkonnen e viria a desenhar Alien e Species), Dan O' Bannon (que depois escreveria Alien para Ridley Scott) e Moebius, num filme em que ainda foram seleccionados Orson Welles, David Carradine e Salvador Dali (este para interpretar o imperador Shaddam Corrino IV ). A BSO ficaria a cargo dos Pink Floyd. O projecto tornou-se incomportável e pouco depois os produtores contactaram Ridley Scott, que trabalharia ainda durante algum tempo no que seriam dois filmes, para logo então o abandonar por prever trabalhos gigantescos de pré-produção (e para realizar Blade Runner). É a partir deste momento que surge Lynch. 

As areias de Arrakis pareciam demasiado difíceis de mover no sentido de fazer um filme à altura da obra-prima de Herbert. O próprio percurso de Dune no cinema se assume como quase mitológico e espera-se agora um trabalho que abrace os fãs e que acolha a obra de Lynch e de Herbert num filme grandioso. O que se sabe desde já é que será certamente um dos filmes de 2012 e um certamente a não perder. Como curiosidade pode interessar a um fã ouvir a BSO do jogo Dune, Dune: Spice Opera de 1992 e espreitar : www.duneinfo.com.

Rafael Vieira 2010, não publicado 

Filmes e séries comentadas :

David Lynch | Dune (1984)
Alan Smithee (AKA David Lynch) | Dune (1989)
John Harrison | Frank Herbert's Dune (2000) – TV
Greg Yaitanes | Children of Dune (2003) – TV
Pierre Morel | Dune (2012 ?)
Alex Proyas | Dark City (1998)
Jeunet / Caro | La Cité des Enfants Perdus (1995)
Ridley Scott | Blade Runner (1982) + Alien (1979)
Alejandro Jodorowsky | El Topo (1970) + Holy Mountain (1973)
Roger Donaldson | Species (1995)

Sem comentários:

Enviar um comentário